Eterno


Tudo que se  faz 
IN-TENSO
Torna-se
E-TERNO

Cenário




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Sou a Rocha
Em que as  águas batem
Meu olhar sobre o mar
As espera
Nesse  cenário que a todo tempo muda
Permaneço
Anoiteço
Amanheço
Observo, ora, a quietude, 
Ora, os ventos furiosos
Em nenhuma estação estou
Permaneço  mudando
Permaneço  me transformando.



No Sol que me Abraça




Para  minha irmã 


Mesmo que a linda rosa
Morra em botão
A vida insiste em  continuar

No sol que me abraça
Na música que enlaça
Para além da vidraça
No muito, ou pouco, que se faça

Lá ela está, a vida, sem medida,
Sem atrasos,
A nos esperar.

No minuto que já se  foi
Mesmo com a ausência silente
Dos que amamos um dia
Seguimos, tontos,  ainda
Pelo mesmo, mas todo dia renovado,
Caminho antes percorrido.

No contar dos Dias





Recolho, às vezes, minhas cores
Deixando o sóbrio branco reinar
No contar dos dias
Ainda que exista o improvável
Por entre as horas
De quem já se cansou de esperar

Na sombra misteriosa dos dias
A primavera com seu feitiço prima
Solto um grito entalado na garganta
Ao ver que ainda, no céu, existem
Pássaros absurdamente livres

Colho, então, minhas tempestades
Para que delas eu possa um dia fazer
Revelando meus segredos a alguém
Um caminho rendado de flores
Onde possa, enfim, chegar além

Profundezas



Carrego em mim
Uma  melancolia
Uma  janela  fechada em dias  frios
O som  agudo que  sai  dos  violinos
A  natureza  bruta das  montanhas
O  silêncio   dos  abismos

Não me  entristece o que  sinto
Suponho apenas 
Que  no  mergulho  dessas  águas  profundas
Onde sei  respirar
Ancoro minhas  dúvidas  e  certezas
E, num  outro  momento,
Em direção  ao  sol  da  superfície
Sou  guiada  a retornar.

Pólen



Dentro da tarde
Este vento fresco traz
Um pólen que germina em meu rosto
Figuras tácidas de flores audazes

Se caio entre as horas do meu relógio
Contemplando o tempo se despindo
Vejo apenas dois confusos ponteiros
Indicando o teu certeiro caminho

Na música que aqui me encanta
Acordes que levitam
O corpo febril flutua
Sublime como a garça sobre a lagoa
Voando alto entre as tuas sobrancelhas.

Aquele Rio




Este  Rio
Corpo, leito e  fluxo
Correndo apressado
Em busca  de  seu  destino.

O  deslizar  de  suas  águas
Quando  abandona  um  lugar
Deixa algo para  trás,
 Aromas
 Memórias
 Vida.

Apesar de  ter  partido,
Permanece  lá,
Algo  daquele  Rio
Algo  de  mim
Permanece  lá.

Há em nós, coisas, emoções 
Que  somente  encontraremos 
Ao  voltar.
Àquele  Rio.

Alma Cigana



Próximo da grande fogueira
Baila um vulto de mulher
Desfazendo-se das misérias do cotidiano
Na neblina densa de todo mistério
Seduzida pela breve liberdade
De uma alquimia de rara beleza...
Transformando poeira em poesia!...

Pés descalços sobre a terra
Prontos para a próxima partida...
Escolhas temidas e tristes abandonos
Se escondem no rápido movimento de seu corpo.

Sob o olhar da lua em chamas
Todo ritual a fecunda
E os quatro elementos da natureza se fundem
Numa realidade própria
De uma alma cigana.

Entre as Margens




Gosto do silêncio
Porque nele ouço minhas próprias vozes

Gosto da escuridão
Porque nela posso ver meus próprios fantasmas

Gosto do Hiato
Onde surgem minhas próprias fantasias

Gosto de paredes brancas
Onde projeto o meu próprio filme

É no silêncio
No Escuro
No Hiato
Onde nasço
Onde surjo
Onde existo

Porque são entre as margens que os rios correm
São entre os parênteses que reside o significado
São entre as montanhas que existem os ecos
São entre os medos que sobrevivem os sonhos.

Memórias




Um  grito
Ecoa no silêncio das minhas  memórias
Tanto há  que  se  explorar
Nas  idades à  que vim a possuir.

Tantos  os  meios  de encontrar
Por  meio  às  flores   que recebi
Tantos  caminhos  à  voltar
Nas  imagens  que, em uma  vida, eu  vi.



Sobre o Amor

 
 Foto: O Beijo , Gustav Klint

Quando toquei
E inutilmente esperei resposta,
Errei.

Quando abraçei
E inutilmente esperei retorno,
Acordei.

O amor é um eco da própria voz
no coração do outro.

Quando é possível ouví-lo
Fascina
Faz - sina...

Amar, verbo intransitivo,
Bem disse o poeta.
O amor nasce da sua própria fonte
E deságua sobre aqueles que têm sede.

Sobre Nós Dois



Segue , agora, você
Que adiante lhe  espero
No caminho que temos a percorrer
Porque somos  ainda imaturos
Para tão intenso sentimento

Segue, agora, você
Que este mundo nos é insuficiente
Para tanta liberdade
Porque nossos  passos ainda pequenos
Não conseguem alcançar
O horizonte de nossas  emoções

Ao  abrir os  dedos  da mão
Ainda  molhados com o meu suor
Seguirás a tua  trajetória
E eu, passo  a  passo,
Sentirei  o  seu  ácido perfume
Em  cada  lembrança

Segue, agora, você
Que  o  amanhã, talvez,
Nos  reserve novo  encontro
E neste  instante, possamos  ver
Que  ainda  somos  crianças
E  em  tão intenso amor
Possamos, enfim, nos  reconhecer.

Fugitivos

Seus contornos me rodeiam
Num espécie de raro torpor
Jorram palavras não ditas
Desejando a frase quase maldita

Em ti, com tonturas, encontro
Algo similar que temia perder
Te encontro, sem nitidez, antes da minha partida
Sem perceber...

E agora, o que fazer?
Se antes do claro amanhecer
Um amor, bêbado, nos flagrou?

Lá fora, a vida aflita devora
Cada pedaço perdido do desvario
Ofegante respiração entrecortada...
Lembranças, bruscas, fragmentadas...

Uma mera coincidência de amar
No espaço, num instante de olhar
Juntos, medo de perder...
Separados, medo de encontrar...

Verde Pai

  Ao  meu  Pai, Harvey,  que  hoje  completaria  75  anos 


O Verde da sua roupa 
Sempre te roubou um pouco de mim.

Os acordes de suas  notas

Sempre estiveram presentes
Como  fundo  musical

Em  nossas  vidas.

Agudos e graves nos  seus  dedos

Ao  tocar  um  instrumento,
 Ecoam eternamente nos meus ouvidos; 

Das muitas casas onde vivemos  
Guardo a mesma lembrança de  você:
 Uma bela  criança que se recusou a crescer.

Você fez da minha vida uma linda canção
E a herança que deixaste para mim

Traduziu  o seu  grande  tesouro:
Sua  sensibilidade e  sua  arte
Que soa eternamente como música
E saudade no meu coração.

Sobre o Amor

 Foto: O Beijo , Gustav Klint

Quando toquei
E inutilmente esperei resposta,
Errei.

Quando abracei
E inutilmente esperei retorno,
Acordei.

O amor é um eco da própria voz
no coração do outro.

Quando é possível ouví-lo
Fascina
Faz - sina...

Amar, verbo intransitivo,
Bem disse o poeta.
O amor nasce da sua própria fonte
E deságua sobre aqueles que têm sede.
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