Doce


Ao meu filho Davi


A doce música vinda do seu quarto
Transporta-me para um tempo em que sonhei
Via nas nuvens tatuado
Um rosto como o seu, a me olhar


O suave perfume que vem do seu quarto
Toca profundamente em meus anseios
Movimento lento, silente
Intacto e emoldurado
Do eterno instante em que te vi


Amor e sonhos convergidos
Impasse que o destino leu
No calor que sempre emana
Do ventre que te protegeu.


Nas paredes brancas
Sou a protagonista
Do sonho que ontem ousei ter
Passado e presente transpassados
De mãos dadas, vida a fora
Escritos num filho que me faz crescer.

Cores de Mim



Na minha maneira de ser
Me reinvento a todo instante
Num segundo de paz
Estouram artifícios de inquietudes

Vivo sem saber do amanhã
Ou o amanhã que ainda me desconhece
Num dia pinto minhas unhas de vermelho
No outro com a cor da delicadeza

Meus olhos , faíscas em preto e branco
Trazem no espelho de minhas memórias
Movimento e serenidade

Da minha janela, sempre vejo pássaros voando
E o tempo, de mãos dadas comigo,
Caminha ao meu lado silente,
E com seus olhos de futuro
Me ajuda a poder enxergar
Mais uma primavera renascer

Viver é eternamente brotar!

No Contar dos Dias


Recolho, às vezes, minhas cores
Deixando o sóbrio branco reinar
No contar dos dias
Ainda que exista o improvável
Por entre as horas
De quem já se cansou de esperar

Na sombra misteriosa dos dias
A primavera com seu feitiço prima
Solto um grito entalado na garganta
Ao ver que ainda existem
Pássaros absurdamente livres

Colho, então, minhas tempestades
Para que delas eu possa um dia fazer
Revelando meus segredos a alguém
Um caminho rendado de flores
Onde possa chegar além

Medieval



Em pálidos momentos

Correm como antes
Os tempos vindouros
Castanhos e tristonhos
Nas tardes afins.

Sem lampejo,
Sem audácia,
Correm entre o fogo
Das chamas de um breve beijo
Nas lembranças de mim.

E o cálice embriagado espreita,
repousa a turva bebida
que ontem cansada abandonei.

Uma brisa na clara cortina
Esvoaça a densa neblina
De um dia sem fim.

Enquanto


Doce encanto
Serei portanto
Quando tu me olhares
E enfim me notares
Me verás na tela em branco
Me verás em todos os cantos
Com sorrisos e com prantos
Serei sua, até e enquanto
Nosso amor for sagaz e tanto
E Depois ... Quando?
Nem eu...
Nem tu...
Nada desejaremos saber...
Do desencanto.

Parodiando Cecília



Ou isto ou aquilo
Escreveu a poeta
Das muitas escolhas
Nenhuma é a certa
Se quando opta-se
Tantas outras são deixadas para trás
Quero essa, mas aquela é melhor
Quero aquela, mas essa me satisfaz
Como é grandiosa a arte de optar
Sem nenhum remorso deixar
Como saber a melhor?
Se o gosto eu não pude experimentar...
Ou isto ou aquilo
Tamanho é o peso da dúvida
Alguém me diga
Aonde comprar "certezas" à quilo?


Inspirado no Poema "Ou Isto ou Aquilo" de Cecília Meireles

Construção


Sou muito mais do que o antes
E menos ainda do que o depois
Sou o que já se forma
O que já se transforma
Sem formas
Sou o que soa
Sou o que se reforma
Sou Pessoa

Da palavra que nasce
Com o próprio jeito
Inovando sempre a cópia
Sou sujeito

Sujeita a tempestades
Sujeita a calmarias
Ora sou inteira
Ora sou metades

Singular ou plural
As vezes sou o verbo
O que consente
O que há, dentro ou fora
Sou o que sente.

Varais de Lembranças



Pendurei minhas lembranças no varal
Resolvi que delas nada mais posso tirar
Delas ninguém, sequer, saberá
Se as retiro, sem querer, ainda úmidas
Em nenhum armário posso guardar

Por isto, deixo-as ao sol encandecente
Adormecidas em seus longos braços
Secando todas as mágoas e mazelas
Como folhas secas, e em estilhaços

Frescas e muito mais leves
Se tornam as lembranças
Que ao sol, adormecidas, secaram
Aonde os ventos se debruçaram
Perfumando sua pele há muito enrugada

Seu destino, então, já previsto
Se põe em passos largos
Ir de encontro, procurando um lugar
Onde possam, enfim, descansar
Junto a outros sentimentos guardados.

Tesouros



" Os Verdadeiros tesouros
não são achados,
mas sim, conquistados"

Luz e Sombra




Na claridade vejo meus poros
Na sombra, minhas ilusões
Figura e fundo...
Casca e Miolo...

Na luz vejo meus olhos
No escuro, meus fantasmas
Sem me distorcer em vultos
Enxergo melhor em luzes apagadas

Na solidão, o espelho é visível
Repentina, toda claridade me cega
O ouro em pó se derramou
Percorrendo os vãos da escada
Quem sobe, sem medos,
Enfrentando seu próprio breu
Reluz, cintilante, adentro madrugada.

As Cores de Mim


Na minha maneira de ser
Me reinvento a todo instante
Num segundo de paz
Estouram artifícios de inquietudes

Vivo sem saber do amanhã
Ou o amanhã que ainda me desconhece
Num dia pinto minhas unhas de vermelho
No outro com a cor da delicadeza

Meus olhos , faíscas em preto e branco
Trazem no espelho de minhas memórias
Movimento e serenidade

Da minha janela, sempre vejo pássaros voando
E o tempo, de mãos dadas comigo,
Caminha ao meu lado silente,
E com seus olhos de futuro
Me ajuda a poder enxergar
Mais uma primavera renascer

Viver é eternamente brotar!

Tsuru



Sob a luz da janela
Suas asas parecem mais coloridas e brilhantes
Sorrateiro vôo da madrugada
Que no escuro da noite
Silenciam sua intensa liberdade


Seu sempre calmo olhar
De imponência e doçura
Sabedoria nata, milenar
Que vem no tempo lapidada

Movimento lento, silente
Internece a quem te olha,
Pássaro gigante
Para além da linha paralela que te sustenta
Sobe o horizonte , feito de ar e poesia
Onde nasce e morre minha inquietude

Entremeio nas dobraduras de papel
É feito o enlace da harmonia
Sobe e desce em meus cabelos
Eleve e leve o meu pensamento.

Para Além de um Sentimento


Na palavra
E no verbo
No tempo que não se vai
No inteiro que não se parte
No afeto que se contrai

A ti, minha emoção dedico
Livre de qualquer formalidade
Presa no meu intenso desejo


E que a mão que toca a outra
Penetrando o tempo e o espaço
Possa também me abraçar
Seus olhos no espelho
E na minha pele gravados


A cada passo incerto a te procurar
Minha alma bem sabe aonde te encontrar
Bem perto, ou bem longe
Em algum lugar
Bem aqui... No meu peito
Escondido na minha lembrança
Corre o meu amor
A ti, para sempre, alcançar

Mulher Aranha




Tal qual aranha, teço
Saio, subo, percorro,
Pendurada em fios, minha alma vejo
Amarrada em voltas
Faço o laço, no abraço

Nos entremeios de mim,
No lampejo
Em todos os fios de minha vida, percorro
Destruo, descarto, enrosco
Desfazendo o feito.

Lanço , jogo e crio
Nas teias do meu caminho
Teço o fio
Teço a trama
Sem drama

Me enredo, e amanheço
Nos meus pés,sinto a seda,
Nos enlaces,
Nos lençóis,
No arremesso.




No sol que abraça


Mesmo que a rosa
Morra em botão
A vida continua...

No sol que me abraça
Na música que enlaça
Para além da vidraça
No muito, ou pouco, que se faça

Lá ela está, a vida, sem medida,
Sem atrasos,
A nos esperar.


No minuto que já morreu
Mesmo com a ausência silente
Dos que amamos um dia
Seguimos ainda
Pelo mesmo, mas todo dia renovado,
Caminho antes percorrido.



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