Singular


Cada caminho, por vezes, parece solitário,
Visto que cada caminho é UM
É estreito, pois somente cabe um passo,
De cada vez...

A solidão necessária do existir
A solidão do ser único
Resnascer a cada instante
E saber-se singular

A dor de existir-se
De saber-se
De ser criança e adulto em um só ser
Aproximar a palavra ao pensamento,
Aproximar a escrita ao sentir

Um caminho de um só
Ser só
Só ser
Como a flor não pode esconder sua cor
Nem o sol esconder seu brilho


Varanda

Moça na Janela - Salvador Dalí


Debruçada sobre a pedra
Que sustenta a imensa varanda
Vejo nuvens de lembranças
Onde ao amanhecer
Formam a densa neblina

Paisagens se vão
Carregadas pelos ventos fortes
Que o tempo nos impõe...
Corredores de imagens
Que vida afora
Se formam como quadros na parede

Folhas desgarradas formam outras árvores
Reaproveitando tudo
O que, antes, já foi criado

Depois da ventania
Encontro sua mão
E o que fica a partir de então,
É o mistério alegre e triste
De quem chega e quem parte.








Girassol



De repente gira o sol
Levando-me junto, mundo afora
O rosto virado para a luz
Contempla a cor e o calor
Onde alegrias perfuram o tempo


Giram as vidas sem saber
Do infortúnio ou da felicidade
No espaço curto de poder
Controlar algum compasso

Giram em torno de mim
A margem de qualquer contratempo
Coragens que perseguem o fim
Em suas destemidas voltas

Rodopia em busca do ouro
Em linda dança dourada afora
Não deixe, nunca, os sonhos partirem
Euforia desenvolta
Companheira do agora

Você



Aos Namorados

Existem pessoas
Que de tanto amadas
Ficam tatuadas em nosso peito

Existem saudades
Que de tantas vontades
Ficam, para sempre,
Derramadas em nosso leito

Existem sentimentos
Que de tanto vividos e absorvidos
Ficam gravados como sinal em nossa pele

Existe Você
Que de tão linda presença
Emoldura a minha história

E bem antes do amanhecer
Sua sombra, como um sol que habita
De tão iluminada
Já me aquece.

Gôsto de Mel



Há de ouvir
O incessável cantos de pássaros
Que nunca voam sobre o mesmo campo
Eternizados no céu,
Como em um quadro de molduras douradas.

Há de ver
Por todo caminho,
Pétalas marfins espalhadas
Onde, por todas a manhãs, com fascínio, caminho.

Pela fresca estação, todo o encanto fulgaz me seduz
Ao dia, há cores, que pintam, sem cerimônia, minha tez
À noite, só os sonhos, com gôsto de mel, posso ter

Fugitivos


Seus contornos me rodeiam
Num espécie de raro torpor
Jorram palavras não ditas
Desejando a frase quase maldita

Em ti, com tonturas, encontro
Algo similar que temia perder
Te encontro, sem nitidez, antes da minha partida
Sem perceber...

E agora, o que fazer?
Se antes do claro amanhecer
Um amor, bêbado, nos flagrou?

Lá fora, a vida aflita devora
Cada pedaço perdido do desvario
Ofegante respiração entrecortada...
Lembranças, bruscas, fragmentadas...

Uma mera coincidência de amar
No espaço, num instante de olhar
Juntos, medo de perder...
Separados, medo de encontrar...

Delicata



Contesto até o fim, entusiasmada
Um dia de sol pelo menos
Em uma triste semana nublada

Diante das calçadas nuas a correr
Pernas trêmulas a percorrer
O mesmo caminho que um dia já fiz

Se vejo um botão de rosa a sorrir
Me ilumino toda ao descobrir
Que também eu posso desabrochar

Sortes me esperam na vanguarda
Um anel de pedra azul na mão
E um amor de suspiros no portão
Related Posts with Thumbnails