Conjugando Verbos


Hoje, pés fincados
Flutuando o passado me deixou
Passo
Bem passado
No presente que me acordou...

Corro junto ao vento
Nas esquinas da minha mão
Hoje
Bem sonhado
Vivo na contramão

Salto em correntezas
Salto alto
Salto agulha
Salto em disparada
Para o amanhã em fagulhas

Quando chego
Atrasada
Novamente me fugiu
O presente que era hoje
E o passado que me engoliu...

Parodiando Cecília


Ou isto ou aquilo
Escreveu a poeta
Das muitas escolhas
Nenhuma é a certa
Se quando opta-se
Tantas outras são deixadas para trás
Quero essa, mas aquela é melhor
Quero aquela, mas essa me satisfaz
Como é grandiosa a arte de optar
Sem nenhum remorso deixar
Como saber a melhor?
Se o gosto eu não pude experimentar...
Ou isto ou aquilo
Tamanho é o peso da dúvida
Alguém me diga
Aonde comprar "certezas" à quilo?


Inspirado no Poema "Ou Isto ou Aquilo" de Cecília Meireles

Pólen



Dentro da tarde
Este vento fresco me traz
Um pólen que germina em meu rosto
Figuras tácidas de flores audazes

Se caio entre as horas do meu relógio
Contemplando o tempo se despindo
Vejo apenas dois confusos ponteiros
Indicando o teu certeiro caminho

Na música que aqui me encanta
Acordes que me levantam do chão
Meu corpo todo, febril, flutua
Sublimo, então, como garça sobre a lagoa
Voando alto entre as tuas sobrancelhas.

Pérola


Um colar de pérolas se desfez

Várias delas se espalharam

Sabendo, cada qual , o seu destino

Correndo apressadas para o fundo do oceano

Feito um labirinto percorrido e desvendado

Todo o mar, ansioso, as aguardava

Como amantes distantes que não se vêem

Apenas sonham um com o outro

E no reencontro tardio

Soluçam felicidade...

Poesia em Reflexão


Para que a luz do sol,?
Se olhos cegos não conseguem ver além de si mesmo?...

De que servem coloridas flores ?
Se o que se vê, em preto e branco,
É uma imagem narcísica estampada no espelho?..

Para que sentir o hortelã de uma bala na boca?
Se perdidas e cinzentas, procurando uma vítima,
Voam, sem rumo, no céu de fumaça?

Para que tantos poemas gentis?
Se pessoas endurecidas, correndo atrás da própria vida,
Escutam apenas os gritos do horror?

Uma esperança agoniza no asfalto quente!...
A espera de que passos apressados
parem por um instante somente;
E se possa, então, sentir no ar, que eleva sua alma
o cheiro adocicado de uma poesia ...

Madura Idade


Depois da poda
Encontro minha força
Falo com o corpo inteiro
Porque falo mais do que palavras

Desisto e insisto
Pois que, a vida me espera
E nas profundidades
Encontro com  meu  ser!...

Nasci, de nada sabia
Cresci, desejando conquistar
Aprendi com as águas a ser flexível
Com as pedras, a ser firme
Tampouco me importam as aparências

Como fumaça, sobe e some
Prefiro a terra, úmida, palpável
Que com segurança, vejo ao longe
E onde, madura, posso pisar!

Cidade de Fora




Asfalto agressivo
Onde pisa minha saudade
Esquinas esguias
Da pouca vontade

Cidade de Fora
Grotão e espora
Nada a contentos
Em tudo, tormentos

Desejo me trouxe
Sujeito ao truncado destino
Pelos trilhos do trem,
Estranha em terras alheias...
Alheia a uma terra estranha...



Nós Atados


Me pego pelo fim

Para entender meus começos...



Com nós atados, em fitas vermelhas

Amarrei-te ao meu lado.

Para ti, cantei sorrisos de cetim

Sorrindo canções aveludadas para entreter...



Quebrei o porta-jóias que me destes,

Espalhando faíscas cintilantes no meu rosto

Mas, mesmo assim, pude ver que,



Soltando os laços dos meus abraços

Em toques de mãos, ou,

Enlace de cílios

Tu, que és outro, sem deixar de ser o mesmo,

Continuastes junto, sem desatar

Com pés de andarilhos.

Fugaz


A vida se faz de passagens
Sendo ela mesma curta e passageira,
momento fulgáz e sensível
Compacta emoção derradeira


O vento trouxe poeira para os meus olhos
Não me deixando ver
que sensações delinquentes
não deixariam marcas...


Como desenhos de círculos na água
permanecem enquanto durar o desejo
Paredes pintadas de cores comedidas
Desbotam, enfraquecem no tórrido ensejo


E nas cinzas vejo brotar o fogo
Queimando feito paixão a primeira mordida
Olhar, boca, suor e pele
E tudo se perderá, novamente, na exata medida...
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