Feliz Tempo Novo!




Espreito, encostada na soleira da aberta porta
Toda a vida apressada passar
Lá vejo cheiros e pessoas
Amigos, amores, lembranças
Todos passam e vão-se embora
É necessário ir!
O que se há de fazer?

Junto deles passam os anos
Inquietudes de adolescente
Dúvidas da juventude
Algodão doce, irresponsabilidade
Passam apressados sem saber


Saber aceitar o fim é uma sabedoria
Talvez a mais árdua e pesada...
Mas depois do fim
Há sempre um novo começo!


Lá vem a brisa de um novo tempo
Despontando no horizonte
Já posso sentir seu frescor
Tocando meus cabelos

Junto a mim somente o agora
Abro os braços e deixo escapar
Solto como um pássaro, todo o passado, outrora
Se vão sonhos abandonados
Objetos quebrados
Nada mais é preciso ficar

Tudo passa e vai embora
O que se há de fazer?
Assisto a tudo e posso crer
O Tempo sabe muito mais do que todos nós
Não ouso desobedecer.

Medieval



Em pálidos momentos
Correm como antes
Os tempos vindouros
Castanhos e tristonhos
Nas tardes afins.

Sem lampejo,
Sem audácia,
Correm entre o fogo
Das chamas de um breve beijo
Nas lembranças de mim.

E o cálice embriagado espreita,
repousa a turva bebida
que ontem cansada abandonei.

Uma brisa na clara cortina
Esvoaça a densa neblina
De um dia sem fim.

Diário Adolescente


Adalgiza era uma moça singular.
De cabelos cacheados, não gostava de alisar.
Pensava que estar na moda era estar antenada com o seu próprio jeito de andar.
Não gostava da idéia de ficar parecida com as mil garotas do seu colégio!
Gostava de ouvir Elis, enquanto sua turma ouvia Lenny Kravitz.
Dois para lá, dois pra cá , com band-aid no calcanhar e tudo!...
Não se importava com as piadinhas...Afinal, tinha um excelente bom humor!...
Mas só se atrapalhava quando o assunto era tratar das coisas de amor...

-Pronto! - Já dizia. Não preciso de ninguém mesmo!...
-É melhor ficar sozinha!

Mas, no fundo, só ela sabia como e onde doía.
Ver que não conseguia esconder seu interesse e sua timidez
quando se aproximava aquele a quem tinha escolhido para ser o único a estar em todas as páginas de seu diário (com direito a corações flechados e desenhos com suas iniciais).
Mas, mesmo assim, um dia ele a notou e a achou diferente das demais.
Seria o cabelo encaracolado?...
Seria as músicas da Elis?
Não sei...Ninguém sabe...
Só se sabe que amando e sendo amada, é que Adalgiza foi realmente feliz!

Em Algum Lugar


Vinda de um outro lugar
Por suaves brisas trazida
Perdida em seus sonhos aqui chegou
Em sua bagagem, apenas sua essência
Em terras estranhas entrou

Incômoda sensação de não pertencer
No coração e na alma
Uma teia de vida à tecer
Num emaranhado de francas emoções.

Do seu passado, nada a saber
No presente, pés descalços a caminhar
Futuro, apenas incertezas é o que há
Sua mão sobre o peito, sente...
Sua vida a pulsar.

Ciranda dos Ventos



A vida de tão incoerente dói,
De tanto estremecer, destrói
De tanto persistir, corrói

Contínua dança em ciranda
Dos tempos idos e vindos
Do tamanho do instante vivido

A vida vem com o vento
Brisas ou tempestades
E no seu incansável girar
Suporta em seus largos braços,
O presente e o futuro
De quem verdadeiramente ousar viver!


Girassol


De repente gira sol
Gira mundo sem conter
Vira o rosto para a luz
Toda alegria perfura o tempo

Gira minha vida sem saber
Do infortúnio ou da felicidade
No espaço curto de poder
Controlar algum compasso

Gira em torno de mim
A margem de qualquer contratempo
Coragem que persegue até o fim
Em suas destemidas voltas

Rodopia em busca do ouro
Em linda dança dourada afora
Não deixe os sonhos partirem
Euforia desenvolta
Companheira do agora





Esfinge


Decifra-me
Ou...
Me perco de vez
Por entre a fumaça do seu incenso...
Que de tão intenso
Como um jovem passado
É consumido em pouco tempo

Separa-se
Em divididas parte iguais
Para que nada de ti possa perder

Diga-me
Palavras sinceras de puro encanto
Compostas em suaves canções para entreter

Componha-se
De nuvens pálidas,
que lentamente se pôem a flutuar
Lisas, tênues e acolchoadas
Para que, em mistério delirante, possam me confortar

Luz e Sombra


Na claridade vejo meus poros
Na sombra, minhas ilusões
Figura e fundo...
Casca e Miolo...

Na luz vejo meus olhos
No escuro, meus fantasmas

Sem me distorcer em vultos
Enxergo melhor em luzes apagadas
Na solidão, o espelho é visível
Repentina, toda claridade me cega

O ouro em pó se derramou
Percorrendo os vãos da escada
Quem sobe, sem medos, enfrentando seu próprio breu
Reluz, cintilante, adentro madrugada.



Junto ao Ipê


Junto ao Ipê amarelo te espero
Juntos no amargo regresso
Nos galhos molhados de sereno
No suor amargo, doce veneno

Juntos a cada hora da partida
Corro contra o vento do tempo, denso
No chão, áspero e úmido piso
Soltos depois do abraço intenso

No ar fica o teu inebriante perfume
Anos passam, mas ainda me habita
Todo aquele olhar de insustentável encanto
E o calor surreal das tuas mãos trêmulas

Flores solitárias caíram silentes
Algo se perdeu no ar,lúgubre, doente
Suspensa em hiatos, sem nenhum adeus ,
Respiração calada, velada e convergente.

Memórias



A uma amiga poeta


Contrariando o seu curto recado
Persisto em não te abandonar
Sentada ao meio fio, junto ao sereno
À espera de tudo recomeçar

Insisto no não ter fim
Em não deixar tudo acabar
Escolho o infinito, mudo
O peso, sufocante, da pata de elefante

Desejando mais que uma noite
Quero, de volta, a manhã a me abraçar
Depois das curvas tênues do rosto
Onde as lágrimas, cansadas, se deixam secar

Ainda seguro o retrato em preto e branco
E vejo o colorido das roupas que vesti
Minha memória, fiel, não me trai
Vejo todos, ainda, sorrindo, alí...

Letras Dançantes




De manhãzinha quando volto a acordar
Embalada pelo fino canto dos pássaros
vejos os sonhos de ontem voltarem...

Sonho como antes não sonhei...
A cada dia, amanheço, aprendendo melhor este ofício

Solto, então, os pássaros contidos em mim,
para que eles voem aonde eu não posso ir!
Assim alcanço toda plenitude
De um céu com algumas nuvens,
O redondo branco contido nelas me seduz...

Se barreiras houvessem não suportariam
A força de um vôo libertador
Aonde ninguém jamais alcança
Somente a minha mão quando enlaça uma caneta
e desenha letras dançantes num papel.

Sentidos


Comungo com a vida
O imenso desejo de liberdade
Santifico em seu altar
A intensa luz do amanhecer

Sorrindo como criança em cada espaço
Refazendo-se em cada abraço
Na sutileza de começar a ser
Singular afeto sentido
No doce momento de ouvir e ver

Sentido alado, mente vã
Corpo nu na claridade lilás
Flores dedicadas, pétalas espalhadas
E um levitar com gosto de hortelã.

Conjugando Verbos


Hoje, pés fincados
Flutuando o passado me deixou
Passo
Bem passado
No presente que me acordou...

Corro junto ao vento
Nas esquinas da minha mão
Hoje
Bem sonhado
Vivo na contramão

Salto em correntezas
Salto alto
Salto agulha
Salto em disparada
Para o amanhã em fagulhas

Quando chego
Atrasada
Novamente me fugiu
O presente que era hoje
E o passado que me engoliu...

Parodiando Cecília


Ou isto ou aquilo
Escreveu a poeta
Das muitas escolhas
Nenhuma é a certa
Se quando opta-se
Tantas outras são deixadas para trás
Quero essa, mas aquela é melhor
Quero aquela, mas essa me satisfaz
Como é grandiosa a arte de optar
Sem nenhum remorso deixar
Como saber a melhor?
Se o gosto eu não pude experimentar...
Ou isto ou aquilo
Tamanho é o peso da dúvida
Alguém me diga
Aonde comprar "certezas" à quilo?


Inspirado no Poema "Ou Isto ou Aquilo" de Cecília Meireles

Pólen



Dentro da tarde
Este vento fresco me traz
Um pólen que germina em meu rosto
Figuras tácidas de flores audazes

Se caio entre as horas do meu relógio
Contemplando o tempo se despindo
Vejo apenas dois confusos ponteiros
Indicando o teu certeiro caminho

Na música que aqui me encanta
Acordes que me levantam do chão
Meu corpo todo, febril, flutua
Sublimo, então, como garça sobre a lagoa
Voando alto entre as tuas sobrancelhas.

Pérola


Um colar de pérolas se desfez

Várias delas se espalharam

Sabendo, cada qual , o seu destino

Correndo apressadas para o fundo do oceano

Feito um labirinto percorrido e desvendado

Todo o mar, ansioso, as aguardava

Como amantes distantes que não se vêem

Apenas sonham um com o outro

E no reencontro tardio

Soluçam felicidade...

Poesia em Reflexão


Para que a luz do sol,?
Se olhos cegos não conseguem ver além de si mesmo?...

De que servem coloridas flores ?
Se o que se vê, em preto e branco,
É uma imagem narcísica estampada no espelho?..

Para que sentir o hortelã de uma bala na boca?
Se perdidas e cinzentas, procurando uma vítima,
Voam, sem rumo, no céu de fumaça?

Para que tantos poemas gentis?
Se pessoas endurecidas, correndo atrás da própria vida,
Escutam apenas os gritos do horror?

Uma esperança agoniza no asfalto quente!...
A espera de que passos apressados
parem por um instante somente;
E se possa, então, sentir no ar, que eleva sua alma
o cheiro adocicado de uma poesia ...

Madura Idade


Depois da poda
Encontro minha força
Falo com o corpo inteiro
Porque falo mais do que palavras

Desisto e insisto
Pois que, a vida me espera
E nas profundidades
Encontro com  meu  ser!...

Nasci, de nada sabia
Cresci, desejando conquistar
Aprendi com as águas a ser flexível
Com as pedras, a ser firme
Tampouco me importam as aparências

Como fumaça, sobe e some
Prefiro a terra, úmida, palpável
Que com segurança, vejo ao longe
E onde, madura, posso pisar!

Cidade de Fora




Asfalto agressivo
Onde pisa minha saudade
Esquinas esguias
Da pouca vontade

Cidade de Fora
Grotão e espora
Nada a contentos
Em tudo, tormentos

Desejo me trouxe
Sujeito ao truncado destino
Pelos trilhos do trem,
Estranha em terras alheias...
Alheia a uma terra estranha...



Nós Atados


Me pego pelo fim

Para entender meus começos...



Com nós atados, em fitas vermelhas

Amarrei-te ao meu lado.

Para ti, cantei sorrisos de cetim

Sorrindo canções aveludadas para entreter...



Quebrei o porta-jóias que me destes,

Espalhando faíscas cintilantes no meu rosto

Mas, mesmo assim, pude ver que,



Soltando os laços dos meus abraços

Em toques de mãos, ou,

Enlace de cílios

Tu, que és outro, sem deixar de ser o mesmo,

Continuastes junto, sem desatar

Com pés de andarilhos.

Fugaz


A vida se faz de passagens
Sendo ela mesma curta e passageira,
momento fulgáz e sensível
Compacta emoção derradeira


O vento trouxe poeira para os meus olhos
Não me deixando ver
que sensações delinquentes
não deixariam marcas...


Como desenhos de círculos na água
permanecem enquanto durar o desejo
Paredes pintadas de cores comedidas
Desbotam, enfraquecem no tórrido ensejo


E nas cinzas vejo brotar o fogo
Queimando feito paixão a primeira mordida
Olhar, boca, suor e pele
E tudo se perderá, novamente, na exata medida...

Quiromante


Solto meus cabelos
Para que eles, ao movimento do vento,
possam laçar você para junto de mim.

Num olhar que eterniza,prendo a respiração,
e num suspiro
Destruo os antigos relógios,
enfeitiçando para sempre um tempo que passou.

Sorrindo e correndo pelas pradarias,
perfuro o ar gelado com o meu corpo,
com intuito de abrir janelas do passado de nós dois.

Inicio-me com herói,
em uma guerra de um homem só,
Salvando memórias destruídas
Em uma fonte de águas cristalinas.

Como quiromante,
percorro tuas linhas da mão,
Tentando encontrar ainda meus rastros, minha imagem...

E no monte de Vênus,
Te espero, acordada,
para que você não escorra,
assustado,entre meus dedos,para longe de mim.

Infância


Tenho saudades de mim... Criança!
De um tempo em que, todo tempo era um tempo todo meu...
Das roupas nos varais e o cheiro de leite e bolinhos de chuva, à tarde.

Compondo canções num piano amarelo, músicas que embalariam brincadeiras sutis e demoradas.
Saudades em que todo tempo era tempo dedicado à imaginação...
Ser feliz era brincar de amarelinha, e o sol dourado fazendo sombras nas mãos, que viravam bichos animados nas paredes; e a comida era um simples punhado de matinho, colhido fresco, num prato de plástico. Água suja de terra fazia um café quentinho para aquecer as visitas.
E o mundo inteiro cabia debaixo de uma casinha de um metro, com móveis de madeira rosa.
Tinha a profissão que desejava, e num piscar de olhos, uma professora passava a ser aeromoça, ou um motorista de ônibus... Ou presidente de um país distante!
Um branco papel virava um barco em mares revoltos, ou uma linda gaivota voando alto demais!...Perto de Deus, talvez...
O céu tinha a cor do desejo de ser feliz.
Mas, as nuvens passam depressa demais!...
E carregam nos braços, sem permissões consentidas, toda uma tímida infância... Apenas resta um caminho a escolher: O caminho de crescer!

Grão de Areia


De mim, senão...
De ti, sei não...
De nós, sei lá...

Sei até onde a verdade me oferece
Sei até o fio da teia que aranha tece
Sei do norte que me tonteia
Sei do ínfimo grão de areia
Que na ampuleta me orienta

Sei do jogo de cálidas palavras
Do júbilo da tarde que jamais anoitece
Da sabedoria das coisas pequenas
De todas as interrogações terrenas
Onde minha poesia floresce

Oblíqua Condição


Alheia a intuições
Contrária a convicções
Junto com o tempo: o amor
Permanente sensação
Oblíqua condição
Estar ardente, e contra o vento...


Indo em direção oposta
A tudo em que há apostas
O desejo não tem lei imposta
Ruma a favor do perigo, do desatino...


Queima, sem fogo haver
Arde sem ser verão
Solto corre, sem amarras
Surpreende, emociona, a contragosto


Mergulhada em pensamentos...
Distraída em soltas imagens...
Não reparei, que de repente,
Nuvens se dissiparam
E o sol, em meus olhos, voltou a brilhar...

Clara Idade


No varal, ao sol , vejo penduradas
as roupas que ontem usei
Correndo atrás de um tempo fugitivo
Por toda uma vida
Cortejo, apaixonadamente,a poesia que desperdicei

Disformes, vejo as asas da gaivota que pintei
São pequenas, mas seu vôo é libertador
No sutil e leve espaço de ser
Minhas tristezas duram apenas uma noite
Amanheço, todo sempre, com uma esperança lilás

Diluída em água corrente
Atravesso as paredes do intenso vazio
Colorindo com lápis de cor
Desenhos de um teimoso destino
Feito e refeito em suaves curvas.

Frágil



Um leve sopro me faz flutuar

No cheiro ácido do limão

Terra batida no canto do pássaro

Que depois da chuva, estufa de alegria



Junto do tronco rosado do ipê

O vento leva folhas salpicantes

contato que traz desassossego

Me pareço, tem vêzes, como uma avenca

Frágil, indócil, no meio do campo em desalinho

Ou então, tal como filhote indefeso

a esperar ansioso comida no ninho.

Rascunho de si mesma



Rolou abrupta escada abaixo
Angústias e tristezas a empurraram
Cruzando despenhadeiros de sua alma
Recolheu no lixo sua própria imagem.

Na loucura própria de quem ama
Refletiu-se em delírios numa tela branca
Assistindo o filme de sua longa estória
Assumiu a direção de sua própria vida

De suas amargas lembranças, despediu-se
De suas velhas roupas, desfez-se
Fechando todas as portas de seu passado
Deitou-se, dormindo esperanças.

Aturdida, a si, pediu perdão
Na noite ficou, amanhecendo com o sol
Pode ver, no rascunho de si mesma, seu fresco reflexo
Pronto, refeito, repleto de novos devaneios.

Vinho Maturado



Como vinho maturando

Versos soltos ficam dentro de mim

Quietos e repousantes

Procurando um sentido,

Afinando o gosto,

Traduzindo o paladar...

Lua Minguante


Se já não sou

Se já não estou

A lua inteira se faz minguante...

Auto-Retrato



Gosto do silêncio

Onde se escutam os pensamentos e o coração bater

Gosto da profundidade das águas... E da alma.

Sou do contra

Gosto da margem ...

Ascendente em fogo, alma de hippie

Pés no chão de uma estrada com direções opostas

Sou um leve papel cintilante no meio do vendaval

Um gosto picante na uva doce

Mistério acalentado na mistura de gerações

Sou um rosto em suaves mudanças

sendo levado pelo vento agressivo do tempo.

Ausência


Num cálido poema
Junto às paredes desenhadas
Vejo um jardim à espera de flores.

Embalando a eterna infância
Ouve-se singelas cantigas
Derradeiros sonhos

Escapados entre os dedos.
Sons de um vazio
que se deixam ensurdecer...

No espelho exilado
a imagem de uma porta aberta para a ilusão
Reflete saudoso o estranho vulto
de um doce alguém que já se foi.

Primavera



É chegada a hora
Onde a poda se faz necessária
De galhos que ontem floresceram
E Hoje, maduros, se deixarem morrer...

É chegado o tempo
Da pequenina semente germinada
Em épocas passadas, solta e abandonada
Romper a terra, aflita, em busca do sol...

De mãos, outrora, contidas e atadas
Em busca de saciar a fome
Prepararem, seguras, a próxima refeição...

Pois que, a primavera já nos surpreende
Com um corte súbito e profundo
Em cada destemido e esperançoso coração.

À procura de novos sonhos,
Aproxima-se a furiosa correnteza
Que lava todas as angústias enternecidas
E faz nascer uma flor em cada dedo da mão.

Desafio


Chamada a desafiar seus medos
Dançou à beira do abismo...
Dormiu sobre os trilhos do trem...
Amou novamente...
Correu na contramão do seu destino
Aceitando a impontualidade de ser!
E após longa batalha,
Respirou a suave plenitude
E encheu-se da sublime alegria de viver!

Depois da Chuva


Desmanchando em pedacinhos
Todo o cortejo se desfez
Cada pessoa em busca de seu caminho
Feito água derramada na ladeira...
Cada gota correndo apressada em busca do seu lugar.
Nada parece igual depois da chuva!
O sol vem e faz mais uma estréia,
Como se nunca tivesse levantado atrás das montanhas!
De alma limpa e renovada
Tudo começa outra vez!

Doce


Ao meu filho Davi


A doce música vinda do seu quarto
Transporta-me para um tempo em que sonhei
Via nas nuvens tatuado
Um rosto como o seu, a me olhar

O suave perfume que vem do seu quarto
Toca profundamente em meus anseios
Movimento lento, silente
Intacto e emoldurado
Do eterno instante em que te vi

Amor e sonhos convergidos
Impasse que o destino leu
No calor que sempre emana
Do ventre que te protegeu.

Nas paredes brancas
Sou a protagonista
Do sonho que ontem ousei ter
Passado e presente transpassados
De mãos dadas vida a fora
Escritos num filho que me faz crescer.

Raro Momento


Amanheci com gosto de ontem
Da janela do meu quarto pude ver
Um emaranhado de joaninhas
Todas de uma vez só
Aproveitando um dia de sol
Quando dormimos depois de um dia feliz
No dia seguinte
Acordamos vendo tudo que antes era raro ver...

Diário Adolescente



Adalgiza era uma moça singular.
De cabelos cacheados, não gostava de alisar.
Pensava que estar na moda era estar antenada com o seu próprio jeito de andar. Não gostava da idéia de ficar parecida com as mil garotas do seu colégio.
Gostava de ouvir Elis, enquanto sua turma ouvia Lenny Kravitz.
Dois para lá, dois pra cá , com band-aid no calcanhar e tudo!...
Não se importava com as piadinhas...
Afinal, tinha um excelente bom humor!...
Mas só se atrapalhava quando o assunto era tratar das coisas de amor...
-Pronto! - Já dizia. Não preciso de ninguém mesmo!...
-É melhor ficar sozinha!
Mas, no fundo, só ela sabia como e onde doía.
Ver que não conseguia esconder seu interesse e sua timidez
quando se aproximava aquele a quem tinha escolhido
para ser o único a estar em todas as páginas de seu diário;
com direito a corações flechados e desenhos com suas iniciais.
Mas mesmo assim, um dia ele a notou e a achou diferente das demais.
Seria o cabelo encaracolado?...
Seria as músicas da Elis?
Não sei...
Ninguém sabe...
Só se sabe que amando e sendo amada, é que Adalgiza foi realmente feliz!

Contratempo


Condensado em uma nuvem
Todo desejo imóvel alí espreitava
Inchou-a tanto, por tanto tempo
que a explodiu!...
Dela caíram milhares de pingos dourados
Encharcando a árida terra.
Brotaram então, tímidas sementes de trigo
e um intempestuoso amor por você!
E apesar do tempo
Contra o tempo, contra o vento, contra tudo
Lindos tempos vieram...

Abstrato


Na segunda chance de viver
Tento ser o que me foi esquecido
O que mais semeei, desisti de colher...
Pois,que, o mais essencial agora me chama.
Dos retratos de mim, do contorno de perfis
O que consigo tocar com as mãos
Já me é indiferente...
Quero o roçar do abstrato!
Do que mais sublime e verdadeiro posso sentir
O que somente a emoção consegue exilar
No seu doce e leve embalo,
Tento extrair o sumo de melhor ser
Afinando a percepção
a capturar o que de mais límpido e insano há em mim.

Céu sem Estrelas


Desenhei seu rosto em uma estrela
E pelas ruas desertas após a chuva
Nadei em cada poça d'água
No reflexo delas refletido
Vi outros invernos apressados passarem por mim
E pela imensidão deste mundo permanecemos
Sós e calados...
Depois que o nosso amor morreu
Nunca mais ousei olhar o céu...

Mutante


Na mesa de cabeceira
Vigiando meu sono
Meu retrato me aguarda dormir
Amanheço, levanto
E naquele retrato não mais estou
A figura estática já se transformou
Saio às ruas procurando as pessoas de ontem
E por trás de sua máscaras de pele
Já não há as mesmas conhecidas
Todas se transformaram...
como eu...
Um cabelo cresceu
Um outro interesse de súbito nasceu
Todas são mutantes errantes
Como eu...

Da Poesia


Entre meu papel e minha caneta
Está um hiato.
Um silêncio, uma respiração
Um mundo a ser criado!
Poesia que me engole
Poesia que me inunda
Poesia que me leva
Molhando e manchando para sempre
As linhas do meu tempo
E do meu caderno...

Cores e Olhares


Na tranquilidade da noite
Invadi o seu jardim
Com a impetuosidade dos apaixonados
Corrí de braços abertos sob o céu lilás
Absorví os tons do estranhamento
Como quem se vê pela primeira vez...
Colhí a essência da sua respiração...
Nem sei se, ao deitar sobre a grama, pude observar as estrelas
Tanto bem que já me fez!
Adornei os cabelos,
Como fazem as pessoas que se preparam para ir embora,
E por entre as mechas,
Coloquei suas cores e seus olhares...
Sem saber que neste gesto
Ficaria com você todo o tempo em meus pensamentos!...

Insensatez


Com olhar entorpecido pelo desejo
Fui ao seu encontro em desafio
Deixei rastros por todo caminho
Com o inebriante perfume da insensatez
Fiz bailes em meu coração,
Até o raiar do dia!Dancei, cantei, suei!
E nas notas da caixinha de música
O desejo amanheceu, ruindo o doce impacto que uma noite traz
O perfume evaporou, sem prumo, no ar que me rodeia,
Sem música, a insensatez partiu sem nenhum adeus
A festa chegou ao seu fim
Sem um tempo certo para recomeço.

A Transformação


Parecida com uma minhoca rastejava......


E a Reticência, em um súbita mudança de postura....


Levantou-se e decidiu crescer!...
Mas viu que para isso deveria mudar drasticamente a si mesma!...
E tudo a sua volta, todas as frases, a partir de então,
mudaram de sentido!



Avós


Saudades de suas risadas,
Cabelos brancos em meio a ruivos
Múltiplas sardas na face
O costumeiro bom humor e deliciosas cocadas
Força e determinação indomáveis
Vida a fora sempre lutando
Alegres e incomparáveis!
Dançando pelos cômodos da casa,
Criando novas receitas para melhor se comer
Deliciando a todos com sua enorme alegria de viver!
Lembranças postas sempre a mesa,
De teatros e uma longínqua vida de artista
Numa reunião de cálices de vinho
Um cheirinho italiano no ar
Conversas para esclarecer
Preocupações que revelavam o verbo: amar
Dentre tantas, fui escolhida
A pertencer a uma linda trajetória
De percalços e acertos
Na maravilhosa história de suas vidas
.

A Borboleta Azul



Certa vez , me disseram, que eu tinha muita imaginação. Na época levei isto como uma crítica não construtiva, mas agora olhando bem, posso admitir que esta é a minha melhor faceta.
Imaginar nos leva longe demais, tão longe que acabamos por descobrir terras ainda não habitadas. A imaginação me trouxe até aqui...
Certo dia uma linda borboleta azul pousou no meu ombro. Fiquei pasma com tamanha audácia, mas deixei-a ali, aproveitando-me de sua rara companhia.
De súbito, saiu a bater suas frágeis asas. O seu azul foi um convite a lhe acompanhar, e a segui pelo caminho que iria dar num abismo.
Olhei para baixo e a altura me fez tontear... Mas a borboleta azul não se intimidou e seguiu com o seu voar por aquela imensidão!
Com a coragem e alegria de viver que nos invade de vez em quando, me lancei de braços abertos tal qual aquela borboleta!
Ah! Que surpresa a minha!
Descobrí naquele impulso, que se lançar num espaço vazio, era como usar a imaginação e eu também podia voar !
Voar como uma borboleta azul!
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