Girassol


De repente gira sol
Gira mundo sem conter
Vira o rosto para a luz
Toda alegria perfura o tempo

Gira minha vida sem saber
Do infortúnio ou da felicidade
No espaço curto de poder
Controlar algum compasso

Gira em torno de mim
A margem de qualquer contratempo
Coragem que persegue até o fim
Em suas destemidas voltas

Rodopia em busca do ouro
Em linda dança dourada afora
Não deixe os sonhos partirem
Euforia desenvolta
Companheira do agora





Esfinge


Decifra-me
Ou...
Me perco de vez
Por entre a fumaça do seu incenso...
Que de tão intenso
Como um jovem passado
É consumido em pouco tempo

Separa-se
Em divididas parte iguais
Para que nada de ti possa perder

Diga-me
Palavras sinceras de puro encanto
Compostas em suaves canções para entreter

Componha-se
De nuvens pálidas,
que lentamente se pôem a flutuar
Lisas, tênues e acolchoadas
Para que, em mistério delirante, possam me confortar

Luz e Sombra


Na claridade vejo meus poros
Na sombra, minhas ilusões
Figura e fundo...
Casca e Miolo...

Na luz vejo meus olhos
No escuro, meus fantasmas

Sem me distorcer em vultos
Enxergo melhor em luzes apagadas
Na solidão, o espelho é visível
Repentina, toda claridade me cega

O ouro em pó se derramou
Percorrendo os vãos da escada
Quem sobe, sem medos, enfrentando seu próprio breu
Reluz, cintilante, adentro madrugada.



Junto ao Ipê


Junto ao Ipê amarelo te espero
Juntos no amargo regresso
Nos galhos molhados de sereno
No suor amargo, doce veneno

Juntos a cada hora da partida
Corro contra o vento do tempo, denso
No chão, áspero e úmido piso
Soltos depois do abraço intenso

No ar fica o teu inebriante perfume
Anos passam, mas ainda me habita
Todo aquele olhar de insustentável encanto
E o calor surreal das tuas mãos trêmulas

Flores solitárias caíram silentes
Algo se perdeu no ar,lúgubre, doente
Suspensa em hiatos, sem nenhum adeus ,
Respiração calada, velada e convergente.

Memórias



A uma amiga poeta


Contrariando o seu curto recado
Persisto em não te abandonar
Sentada ao meio fio, junto ao sereno
À espera de tudo recomeçar

Insisto no não ter fim
Em não deixar tudo acabar
Escolho o infinito, mudo
O peso, sufocante, da pata de elefante

Desejando mais que uma noite
Quero, de volta, a manhã a me abraçar
Depois das curvas tênues do rosto
Onde as lágrimas, cansadas, se deixam secar

Ainda seguro o retrato em preto e branco
E vejo o colorido das roupas que vesti
Minha memória, fiel, não me trai
Vejo todos, ainda, sorrindo, alí...

Letras Dançantes




De manhãzinha quando volto a acordar
Embalada pelo fino canto dos pássaros
vejos os sonhos de ontem voltarem...

Sonho como antes não sonhei...
A cada dia, amanheço, aprendendo melhor este ofício

Solto, então, os pássaros contidos em mim,
para que eles voem aonde eu não posso ir!
Assim alcanço toda plenitude
De um céu com algumas nuvens,
O redondo branco contido nelas me seduz...

Se barreiras houvessem não suportariam
A força de um vôo libertador
Aonde ninguém jamais alcança
Somente a minha mão quando enlaça uma caneta
e desenha letras dançantes num papel.

Sentidos


Comungo com a vida
O imenso desejo de liberdade
Santifico em seu altar
A intensa luz do amanhecer

Sorrindo como criança em cada espaço
Refazendo-se em cada abraço
Na sutileza de começar a ser
Singular afeto sentido
No doce momento de ouvir e ver

Sentido alado, mente vã
Corpo nu na claridade lilás
Flores dedicadas, pétalas espalhadas
E um levitar com gosto de hortelã.
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