Pés Descalços



Nada oculta-se aos olhos de quem sabe
O saber te leva mais longe
Do que seus próprios pés.
Pois, o que encanta,
E no encontro,
O sábio e o caminhante andam juntos.

Quando os pés duvidam
O saber suporta
Quando os pés duvidam
Abre-se a porta:
Do saber de si
Do saber sobre o outro

Sobre a ponte que me conduz mais além
Pisando o asfalto da decisão
Do poder de escolha
De ir e voltar ,
quando assim desejar,
Apóio meus pés descalços,
Sem me deixar parar.

Construção



Sou muito mais do que o antes
E menos ainda do que o depois
Sou o que já se forma
O que já se transforma
Sem formas
Sou o que soa
Sou o que se reforma
Sou Pessoa

Da palavra que nasce
Com o próprio jeito
Inovando sempre a cópia
Sou sujeito

Sujeita a tempestades
Sujeita a calmarias
Ora sou inteira
Ora sou metades

Singular ou plural
Às vezes sou o verbo
O que conjuga
O que consente
O que há, dentro ou fora
Passado e presente
Sou o que sente.

Clarice



Sempre amei Clarice
Desde o primeiro momento em que a vi
Sua foto estampada num livro de literatura juvenil
Onde fomos apresentadas

Seu olhar lânguido me conquistou
Suas palavras vieram calar as minhas, por momentos
Onde , como num reflexo no espelho,
Falavam por mim

Descobri que muita gente se cala ao ouví-la
Pois, seu semblante nos emudece
Nos entorpece

Aqui, depois, de muito tempo passado,
Com a poesia que agora me faz falar
Cada vez mais perto de um Coração Selvagem
Utilizando as palavras, talvez as mesmas,
Relendo os sentimentos que brotam de cada texto seu.

Toda claridade é pouca perto de Clarice
Toda luminosidade que a contempla
Cega muitos olhos aflitos...

Para compreendê-la, enfim,
aprendendo a viver
Bastam apenas perguntas
Sem nenhuma ínfima resposta




Luz e Sombra


Foto: La Promesse - Renê Magritte

Na claridade vejo meus poros
Na sombra, minhas ilusões
Figura e fundo...
Casca e Miolo...

Na luz vejo meus olhos
No escuro, meus fantasmas
Sem me distorcer em vultos
Enxergo melhor em luzes apagadas

Na solidão, o espelho é visível
Repentina, toda claridade me cega
O ouro em pó se derramou
Percorrendo os vãos da escada
Quem sobe, sem medos,
Enfrentando seu próprio breu
Reluz, cintilante, adentro madrugada.

Libélula



Junto à porta que dá passagem ao passado
Encontrei-te esperando por mim
Nem tão lá,
Nem tão aqui,
Mas, na ausência implícita

Nos cortes inesperados,
Na liberdade abraçada
Nos entrelaços da vida

Na fonte que nos oferece água limpa
Está a esperança de dias sem saudades
Onde para o amor
Não existem dores

E na liberta sensação do encontro
Deixar-se embalar por ventos interiores
Devagar sem destino
Em terras jamais vistas
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